Excelentíssimos senhores organizadores e participantes deste Seminário, Em primeiro lugar, saúdo esta iniciativa e agradeço o convite para participar neste seminário e de me pronunciar sobre este tema, tão doloroso não apenas para a Ucrânia, mas também para outros países do mundo.
Como é sabido, a desinformação é uma das ferramentas da guerra híbrida que a Rússia tem conduzido contra a Ucrânia desde 2014.
Importa referir que, ainda desde 1991, após a independência da Ucrânia, e ao longo das últimas décadas, a Federação Russa tem disseminado constantemente mensagens anti-ucranianas, inventando mitos para atingir as metas da sua política agressiva e imperialista.
Um bom exemplo disto é o mito de que “a Crimeia sempre foi russa”. É difícil encontrar um mito mais absurdo e menos bem fundamentado, mas, por mais estranho que pareça, ele conseguiu penetrar na consciência das massas internacionais, uma vez que a propaganda russa começou a lançar lentamente essa desinformação imediatamente após o colapso pacífico da URSS.
Quando a guerra chegou, a opinião internacional “não oficial” já havia sido processada. Mas claro que os factos objetivos e bem documentados são outros.
Há cinco anos atrás, durante a Revolução da Dignidade, e quando as tropas russas começaram a ocupação da Crimeia, a Ucrânia sentiu o ataque massivo da propaganda russa.
O espaço informativo da Rússia, da Ucrânia e da Europa foi inundado com notícias falsas, propagadas pelos meios de comunicação russos, que começaram a escrever sobre o “golpe inconstitucional na Ucrânia”, as atividades de “ajuntamento”, “a legitimidade do presidente Yanukovych” e o papel dos Estados Unidos da América e da União Europeia na Revolução da Dignidade, etc.
Foi naqueles dias que a palavra “fake” começou a fazer parte do círculo quotidiano. Assim os jornalistas e especialistas começaram a designar as informações falsas que distorcem factos reais e que obliteram a realidade, mas que são apresentadas como “notícias” (entre aspas), ou seja, fake news.
Perante esta situação, em 2014, a Ucrânia entendeu que, para além de combater a agressão militar, é necessário tomar medidas para lutar contra a máquina poderosa da propaganda russa.
Queria aqui dar um exemplo com referência à revista “Crimeia Inform” número 1 deste ano. Durante os primeiros três anos de ocupação, a imprensa de tártaros da Crimeia foi totalmente suprimida.
Ao mesmo tempo, as autoridades russas de ocupação criaram o canal de televisão “Millet”, que divulga a propaganda russa em língua tártara na península ocupada.
Durante o ano de 2018, de acordo com o grupo operacional East Stratcom Task Force, na Crimeia foram divulgadas 1001 (mil e uma) fake news que tinham marcas de propaganda russa. 461 (quatrocentas e sessenta e uma) dessas 1001 (mil e uma) diziam respeito à Ucrânia, que era retratada como um “estado nazi”.
E isto é apenas uma gota no oceano, mas mostra claramente toda a gravidade da situação.
No início da agressão russa, os ministérios ucranianos, em particular, da defesa e dos assuntos internos, bem como os órgãos policiais começaram a dar brifiengs e conferências de imprensa para divulgar a informação imparcial sobre a situação na Ucrânia.
O principal espaço para esse efeito foi o Ukraine Crisis Media Center, uma organização não-governamental, lançada em março de 2014, como resposta rápida à ocupação russa da Crimeia e com o objetivo de defender a soberania e os interesses nacionais da Ucrânia no espaço global da informação.
Em dezembro de 2014, a Verkhovna Rada da Ucrânia tomou a decisão de criar o Ministério da Política de Informação da Ucrânia, o qual implementa a política Estatal nas áreas de soberania da informação da Ucrânia, de emissões estatais e da segurança da informação.
No ano seguinte, foi aprovada a Doutrina da Segurança da Informação na Ucrânia.
A 15 de maio de 2017, o Presidente da Ucrânia assinou o decreto sobre a introdução de novas sanções contra pessoas individuais e coletivas da Rússia.
Esta lista contém 468 (quatrocentas e sessenta e oito) pessoas colectivas, incluindo a Yandex, as redes sociais “VKontante” e “Odnoklassniki”, o serviço “mail.ru”, alguns canais de televisão, etc.
A principal razão para tal decisão foi neutralizar uma das ferramentas da guerra híbrida da Rússia contra a Ucrânia, que são as redes sociais administradas pela Rússia, que têm como objetivo espalhar informações falsas sobre a Ucrânia, bem como incitar o espírito de conflito e protesto entre os ucranianos.
Eis alguns dados que ajudam a compreender a ameaça real vinda das redes sociais russas.
Naquela altura, na rede social “VKontante”, cujo número geral de usuários totalizava mais de 10 milhões de pessoas, havia 866 (oitocentas e sessenta e seis) comunidades anti-ucranianas.
Na rede social “Odnoklassniki”, cujo número geral de usuários contabilizava mais de 4 milhões de pessoas, havia 157 (cento e cinquenta e sete) comunidades anti-ucranianas.
É de assinalar que o movimento voluntário é um fenómeno importante na história atual da Ucrânia. O voluntariado que se tem desenvolvido ativamente desde a Revolução da Dignidade empenha um papel importante também na luta contra a desinformação russa.
Graças ao activismo da sociedade, desde o início da ocupação russa da Crimeia, apareceram dezenas de comunidades de voluntários que agem até aos dias de hoje para resistir à agressão informativa da Rússia.
No início de março de 2014, surgiu, por exemplo, o projeto StopFake. Os fundadores deste projeto eram professores, investigadores e estudantes da Escola de Jornalismo Mohyla. Lançado como um projeto voluntário, o StopFake montou posteriormente uma equipa de profissionais de desinformação, a qual soma agora mais de 40 pessoas.
A tarefa do StopFake era testar e refutar a desinformação e propaganda difundida pelos meios de comunicação russos sobre o que está a acontecer na Ucrânia. Para além da influência da propaganda na Ucrânia, o StopFake explora os métodos do seu impacto noutros países e regiões, principalmente, na União Europeia e nos países da antiga União Soviética.
Hoje, o StopFake é mais do que um projeto, é um hub analítico, no qual os problemas da propaganda e da desinformação são considerados de forma abrangente, lidando com o trabalho analítico, o monitoramento de pesquisa e o desenvolvimento de novas abordagens na educação mediática de facto.
A primeira refutação apareceu no site do projeto a 2 de março de 2014. Com este material, o StopFake denunciou a falsa notícia da agência de propaganda russa RIA «Novosti» sobre a transição maciça de militares ucranianos, alguns dos quais baseados na Crimeia, ao lado das autoridades russas.
De seguida, os meios de comunicação russos inventaram que milhares de refugiados ucranianos haviam inundado as regiões fronteiriças da Rússia, embora não os mostrassem. No noticiário mostraram, sim, um vídeo da fronteira ucraniano-polaca. Era fácil verificar essa informação - bastava ligar para o Serviço Federal de Migração da Federação Russa e solicitar os dados sobre os refugiados da Ucrânia. Isto foi feito pela equipa do StopFake.
De acordo com o diretor executivo do projeto Stop Fake, Ruslan Deinychenko, um representante do departamento de fronteiras disse-lhe que durante toda a semana eles apenas tinham recebido alguns telefonemas de ucranianos. Não havia nenhuma afluência de “milhares de refugiados”. Embora, em conversa, lembrava que havia uma instrução superior para preparar lugares para eventuais refugiados. Somente depois do início da guerra da Rússia no Donbas, quando refugiados vieram daquela região, ficou claro que o Kremlin já estava a preparar-se para esse cenário com antecedência.
Outra iniciativa voluntária que surgiu como resposta à agressão russa na Ucrânia foi a InformNapalm, iniciada pelo jornalista ucraniano Roman Burko e pelo especialista militar georgiano Irakli Komaxidze. Hoje em dia, reune os esforços de mais de 30 voluntários de mais de 10 países. As suas investigações estão disponíveis em mais de 20 idiomas.
Por exemplo, em fevereiro de 2017, a InformNapalm publicou um relatório em que descreveu ao pormenor os 43 tipos de equipamentos militares russos usados no leste da Ucrânia, efetivamente em poder das forças conjuntas russo-terroristas, embora oficialmente de uso exclusivo das forças armadas russas.
Recentemente, em Estrasburgo e Bruxelas, foi apresentado um livro intitulado “Palavras e guerras. A Ucrânia combate a propaganda russa” publicado em 2017. Os autores do estudo sistematizaram a experiência de conduzir uma guerra de informação contra a máquina de propaganda do Kremlin e instaram os europeus a se unirem e a agirem globalmente.
A propaganda russa deixou de ser uma chaga exclusiva da Ucrânia, agora é um problema à escala mundial.
Portanto, se a Rússia usar a democracia na sua luta contra a própria democracia, então na democracia há ferramentas para esta se defender. Se a Rússia violar todas as normas possíveis, consequentemente, as respetivas sanções devem ser impostas.
Agradeço a vossa atenção!