Recentemente realizou-se na Rússia a maior convenção internacional de nacionalistas e neonazis extremistas, o “Fórum Internacional Conservador da Rússia” (22 de Março de 2015, São Petersburgo). Foram convidados apenas os nacionalistas que apoiam a política agressiva da Rússia.
No total, o evento teve a participação de 150 representantes de 11 partidos e organizações neonazis e 400 participantes de 15 países.
Grã-Bretanha foi representada pelos partidos “Partido Nacional Britânico”, “Grã-Bretanha acima de tudo” e grupo de activistas “Liga da Vida”; Bélgica – pela organização “Euro-Rússia”; Alemanha – pelo “Partido Democrático Nacional”; Grécia – pelo partido “Aurora Dourada”; Dinamarca – pelo “Partido do Povo Dinamarquês”; Itália – pelos partidos “Nova Força” e “Liga da Lombardia”; Espanha – pelo partido “Democracia Nacional”; EUA – pela organização “Movimento Nacionalista do Texas”; Suécia – pelo “Partido dos Suecos”; Finlândia – pelo “Partido Nacional”. |
“Por estarem empenhados em campanhas eleitorais”, estiveram ausentes os representantes dos conhecidos defensores da agressão russa como “Frente Nacional” (França), “Partido da Liberdade” (Áustria), “Ataque” (Bulgária), “Yobik” e “Fidesz” (Hungria).
A ausência no fórum de um representante do partido nacionalista búlgaro “Ataque” não impediu que o líder da sua bancada no parlamento búlgaro anunciasse em 27 de Março do corrente todas as teses essenciais proferidas em São Petersburgo sobre a “junta nazi em Kiev”, o “perigo de se desencadear a terceira guerra mundial, se os EUA fornecerem armas à Ucrânia”. |
O evento foi organizado pelo partido nacional-conservador russo de esquerda “Rodina” (Pátria), liderado pelo actual vice-primeiro-ministro do governo, Dmitry Rogozin. A parte russa como anfitriã assumiu todas as despesas de transporte e estadia dos participantes. É significativo que os representantes da comunidade local que se opuseram publicamente à realização do fórum neonazi foram detidos pela polícia russa por ter participado num “evento não sancionado”.
Em 19 de Março de 2015, três dias antes da realização do ajuntamento de neonazis em São Petersburgo, durante a sessão do Conselho Permanente da OSCE a Rússia fez a declaração sobre “o crescimento do nacionalismo agressivo no espaço da OSCE”, apontando para “a necessidade de se tomar a nível nacional medidas abrangentes para combater o neonazismo”. No final de Janeiro de 2015, os parlamentares russos dirigiram-se aos seus colegas dos parlamentos nacionais dos Estados-Membros com o apelo a “se unir para parar a crise que levou à destruição e ao sofrimento no Sudeste da Ucrânia e ameaça a própria possibilidade de uma vida pacífica para mais de 800 milhões de europeus”. No contexto da discussão tida em Março deste ano sobre as prioridades da presidência sérvia relativamente à dimensão humana, a Rússia anunciou a necessidade de introduzir certos ajustamentos no documento sérvio atendendo às seguintes prioridades da parte russa: (i) o 70º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial e as lições históricas tiradas dela, (ii) a luta contra as manifestações de fascismo, neonazismo, chauvinismo político e extremismo.
A Rússia usa o termo “fascismo” em relação a tudo o que é alheio ou extrínseco à visão russa do mundo ou contrário aos seus interesses. A luta contra o neonazismo (fascismo e nacionalismo agressivo) tem sido apresentada, desde 2008, como uma das prioridades da política externa russa. Nos principais documentos da política externa russa, a luta contra as várias manifestações do fascismo e nazismo é relacionada com a luta contra a “reescrita da história e a revisão dos resultados da Segunda Guerra Mundial”. O 70º aniversário da “vitória na Grande Guerra Patriótica” tornou-se um conveniente pretexto informativo para consolidar a sociedade russa em torno das teses de “grandioso passado comum”, “papel da União Soviética e, respectivamente, da Rússia na vitória sobre o fascismo”, “inadmissibilidade da distorção da história”. Tendo por fundo a retórica antiocidental agressiva do governo russo, consegue-se assegurar um nível bastante alto de apoio à política do Kremlin orientada para posicionar a Rússia como “defensora da justiça histórica” e “principal lutadora contra o renascimento do fascismo”. Os ideólogos do Kremlin apresentam a Rússia como o país que nunca parou de lutar contra o fascismo mundial, enquanto as nações que escolheram a orientação pró-ocidental (incluindo a ucraniana) são tratadas como seguidoras de Hitler.
Na Rússia, está a ocorrer a expansão maciça das ideias de intolerância, difundidas pela televisão russa e toleradas pela liderança do estado
De acordo com os dados do Centro de Informação Analítica “Sová”, ao longo de 2014, 19 pessoas foram assassinadas e 103 ficaram feridas em 25 regiões da Rússia em consequência de ataques racistas e neonazis. Nesta triste estatística lidera Moscovo, onde 8 pessoas foram assassinadas e 28 ficaram feridas. Além disso, apenas em Dezembro de 2014 neonazis atacaram 5 locais religiosos nas cidades de Volgograd e Novosibirsk, bem como na região de Tyumen e na República do Tartaristão. As anuais e já tradicionais “marchas russas” são acompanhadas pela exibição de cruzes suásticas e símbolos das divisões SS. Nas marchas neonazis dos “cossacos” combinam-se símbolos cristãos ortodoxos e nazis. No seu primeiro relatório dedicado ao racismo no futebol russo e divulgado em Fevereiro de 2015, a ONG “Futebol contra o Racismo na Europa” descreveu um panorama assustador do futebol actual na Rússia, ao qual são inerentes todas as formas possíveis de manifestação do racismo e xenofobia, unicamente com base nos mais de 200 factos registados de comportamento discriminatório. |
O neonazismo e o fascismo são exportados da Rússia para a Ucrânia. É no meio dos simpatizantes de movimentos neonazis e fascistas que a Rússia recruta a maior parte dos mercenários para combaterem na Ucrânia ao lado das repúblicas terroristas de Donetsk e Lugansk. O slogan “defesa dos russos” traduz-se na prática no apelo “mata cidadãos ucranianos”. A propaganda anti-ucraniana levada a cabo nos meios de comunicação russos reforça os sentimentos anti-ucranianos na sociedade russa e a intolerância a tudo o que é ucraniano. Na Rússia pratica-se, a nível oficial, o assédio e as detenções ilegais dos cidadãos da Ucrânia. Registaram-se factos inegáveis de intimidação física e pressão psicológica sobre ucranianos. Tornaram-se sistémicos os casos de justiça selectiva em relação a cidadãos da Ucrânia e ucranianos residentes na Rússia. Deu-se o assassinato de um cidadão da Ucrânia no território russo, cometido por motivos nacionalistas.
A Ucrânia condenou veementemente o assassinato brutal do cidadão ucraniano Roman Muzychenko praticado em 14 de Fevereiro de 2015 na cidade de Moscovo por um grupo de 21 adolescentes nacionalistas. Conforme informam activistas russos de direitos humanos, este crime foi perpetrado por motivos étnicos. |
A Rússia trai a memória da Grande Vitória e apoia abertamente fascistas em todo o mundo